sábado, 16 de abril de 2011

Novo mineral brasileiro


Mineral, de dimensões milimétricas, é formado por arranjo de átomos de urânio, nióbio e cálcio


Manuscrito
                   Mario Chaves e Luiz Menezes: mineral com inédita composição química e organização atômica

A descoberta de um mineral em terras mineiras deve aumentar a geodiversidade do Brasil e do mundo. Com experiência de mais de 40 anos como colecionador, comerciante de minerais e mineralogista, o engenheiro de minas Luiz Alberto Menezes, doutorando da UFMG, descobriu, há cinco anos, o mineral batizado como carlosbarbosaita. A descoberta aconteceu enquanto o pesquisador vasculhava uma área de despejo da inativa jazida de albita em Jaguaraçu, no Vale do Rio Doce. O novo elemento recebeu, no ano passado, registro de originalidade concedido pela International Mineralogical Association (IMA).

De acordo com Menezes, ainda não se pode estimar o valor econômico do mineral, pois, segundo o pesquisador, sua área de ocorrência ainda é desconhecida e sua ocorrência está limitada a dimensões muito pequenas - seus cristais têm 50 x 10 x 5 milésimos de milímetros. Os átomos que constituem a carlosbarbosaita compõem no espaço uma estrutura atômica inédita, de forma tubular.

"Essa descoberta pode vir a fornecer subsídios para o desenvolvimento de novos materiais para aplicações tecnológicas especiais. No futuro, eles poderão ser aplicados no desenvolvimento de novos materiais. Além disso, por se tratar de um trabalho científico de base, funciona como incremento para o conhecimento da geodiversidade do Brasil e do mundo", ressalta Menezes, que teve como orientador de tese Luiz Chaves, professor do Instituto de Geociência da UFMG.

Ao todo, no Brasil, foram descobertas 54 espécies minerais. Luiz Menezes participou de 20% deste total e afirma que é preciso ter experiência e "olho clínico" para reconhecer que um mineral é incomum, o que não significa que seja uma espécie nova, até então desconhecida pela ciência. "Ter persistência é fundamental, pois grande parte das amostras que parecem, à primeira vista, serem incomuns acabam sendo classificadas como minerais raros, mas que foram encontrados anteriormente em algum outro lugar do mundo", diz.

Tão logo coletou o mineral em Jaguaraçu, Menezes o enviou ao Departamento de Engenharia de Minas da UFMG, para que fosse realizada a análise de sua composição química. Ao verificar que se tratava de óxido bastante raro, o doutorando levou amostra para a Universidade de São Paulo (USP), para estudo de sua estrutura atômica.
O nome da nova espécie é uma homenagem a Carlos de Prado Barbosa, engenheiro químico e mineralogista responsável pela descoberta da minasgeraisita e da bahianita. Segundo Menezes, até o momento, a carlosbarbosaita foi encontrada junto a rochas chamadas pegmatitos, de onde se retira a albita, mineral usado na produção de cerâmica.

Mineralogia requer investimentos


Luiz Menezes alerta que falta no país incentivo a estudiosos interessados em identificar formações inéditas. Mas a disparidade existente no ranking internacional de registro de espécies entre o Brasil e outros países parece ter causas mais profundas e históricas relacionadas ao modelo de exploração e pesquisa mineral, que continua a sofrer com a falta de investimento em novas fronteiras.

"Como a escala dos novos minerais atingiu proporções difíceis de serem observadas a olho nu, a pesquisa atual exige investimentos maiores, em formação de pessoal e equipamentos. Universidades e empresas, no entanto, abandonaram esse desafio", reflete. O achado da carlosbarbosaita e sua trajetória de meia década em busca de reconhecimento no IMA ilustram bem o problema. O processo atrasou por deficiências na infraestrutura de pesquisa mineralógica no Brasil.

Decorre desse reconhecimento espécie de corrida na área de mineralogia em busca de espécies ainda desconhecidas, antes que, literalmente, virem pó. "Praticamente todos os grandes minerais já foram descobertos. Com isso, há pelo menos 50 anos as pesquisas se concentram em materiais de pequeno tamanho", observa o professor da UFMG.
O trabalho se assemelha a uma arqueologia em bota-foras: como grande parte das jazidas e subsolos já está mapeada e em exploração, pesquisadores e colecionadores procuram nas áreas de descarte das mineradoras amostras que poderiam constituir novos minerais.

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