terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Projeto Jarí a criação da Companhia do Jari - consórcio de 27 empresários brasileiros, cujos retoques finais foram dados pelo Ministro do Planejamento no Regime Militar Antônio Delfim Netto, e o empresário Augusto Trajano de Azevedo Antunes, "amigo pessoal" de Ludwig

Adendo  Nov/2019:
A Amazônia reservada, demarcada, fracionada  para o projeto “neoliberal” desde os anos 70,  afinal, mostra  as estratégias para sua usurpação  até então oculta. O atual Presidente do Brasil o militar Jair Bolsonaro, faz reacender a venda, doação, entrega, ou melhor, roubo,  realizado nos anos 70/80, com as terras da Amazônia e entorno. Hoje, entrega a madeira brasileira para nacionais entreguistas e não nacionais usurpadores, o corte  e a exportação 'in natura' de madeira nativa da Amazônia.  Por quantos donos a mais se transformou os 27 empresários  que participaram do consórcio de doação das terras do Jari em 1970, feita pelos Srs. militares conforme  descrito abaixo: 


07/02/2012:
A Cia do Jari no Amazonas do rico empresário americano Ludwig, preocupando  os militares durante o regime militar, que capitaneados pelo incompetente Ministro das Finanças Delfin Neto,  arrumou "com aval dos Srs. militares", 27 e secretos empresários brasileiros (quais?) para assumir o Jari no Amazonas, com recursos do BNDES, do Banco do Brasil; como líder das negociações, Augusto Trajano da Caemi na sociedade depois, se juntou a Vale X do Eike  e Eliezer Batista;  a nova empresa cujo comando tinha que ficar no Rio de Janeiro, um dos "27" mais falado emprespário escolhido foi Nestor Jost que, (roubou o Banco do Brasil para eles) Advogado, presidiu o Banco do Brasil de 1967 a 1974, ministro da Agricultura entre 2 de março de 1984 e 14 de março de 1985. "um Juscelino lesa-pátria gaúcho"; Após, a Saga Investimentos e Participações controladora do Grupo Orsa de Sergio  Antonio Garcia Amoroso presidente da WWF-Brasil facção anglo-saxônica, que comprou 96% das ações ordinárias do Grupo Jari, que estavam sob controle da Caemi (incêndio criminoso no RJ destruiu os papeis originais!!!). A partir da negociação, intermediada pelo BNDES e pelo Banco do Brasil a Cia do Jari foi repatriada com recurso brasileiro, nas mãos dos banqueiros internacionais, e dos 27 secretos não nacionalistas vendilhões da pátria escolhidos à dedo pelo governo militar e Delfin Neto. O que sobrou para o Brasil? NADA! No entanto, Delfin Neto continuou  atuante assim como todos os presidentes coniventes com o fracionamento do Brasil, que continua, entra governo, sai governo.

Cel José Júlio, o Czar do Jari Parte I [5]

José Júlio de Andrade, personagem controvertido da história da Amazônia, montou um império envolvendo terras nos municípios paraenses de Almeirim e Porto de Moz, além de Laranjal do Jarí e Mazagão, no Estado do Amapá, conseguindo assim a distinção de ter sido um dos maiores latifundiários do mundo, com propriedades que atingiram mais de três milhões de hectares. -  O coronel Zé Júlio, como ficou conhecido, conseguiu a patente graças à compra junto a então Guarda Nacional. Foi senador da República por vários anos, sem nunca ter perdido uma eleição em Almeirim, onde ficava a localidade Arumanduba, sede de suas atividades.
Resultado de imagem para José Júlio de Andrade,
  • Coronel José Júlio o czar do Jari, adquiriu o título honorífico militar do Exército de "Coronel da Guarda Nacional". praticava o coronelismo, Elegeu-se Senador da Câmara de Belém com sucessivos mandatos e conheceu o Presidente da República Getúlio Vargas na década de 1930, e vendeu 1.200.000 hectares na Amazônia para rico empresário "americano". [2.3]
  • Coronel José Júlio de Andrade, natural de "Sobral Ceará" será de lá mesmo? Porque como Senador em Belém não consta sua foto, seu relato nos arquivos oficiais? comprar terras no Pará Cajari, Jarí e Parú como "laranja" para assentamento de 50 a 60 mil famílias europeias, de origem judaica? atendendo empresa com capital de um milhão de libras esterlinas constituída na França, mas com garantias de bancos ingleses e franceses que encarregar-se-ia da execução do plano? e urgente, porque havia pressa em retirar tais famílias dos locais de origem, devido às perseguições étnicas? porque em seguida, os ditos perseguidores étnicos chegaram para explorar o território apoiados pelo Presidente em exercício? A consequência disso tudo, vemos hoje, o Brasil dirigido de fora para dentro [4].

Projeto Jarí

Daniel Keith Ludwig no Jarí.  “Com uma fortuna constituída à sombra de governos. Em 1936 tomou um grande empréstimo junto ao Chemical Bank, que usou para aquisição de cargueiros que converteu em navios-tanque, expandindo sua atividade apesar da Grande Depressão. Ao fim da II Guerra Mundial era o quinto maior armador dos Estados Unidos da América. Projeto Jari, iniciado após 1967, quando adquiriu do coronel José Júlio de Andrade uma área do tamanho do Connecticut na amazônia brasileira. Em 1982, com a demora em apresentar retorno financeiro, o projeto foi vendido.  Seu objetivo era reflorestar para extração de madeira e metais. Ludwig promoveu um grande processo de devastação ambiental na Amazônia.” “Nenhum imposto estava sendo pago e o valor das isenções superava em quatro vezes o montante a ser pago.”[IOKOI, Zilda Márcia Grícoli, O Brasil Atual e a Mundialização, São Paulo, Edições Loyola, 1997, pp. 40.]
 A empresa obteve isenção de impostos e taxas sobre importação de máquinas.
Os antigos proprietários foram obrigados, por contrato a deixarem as terras e não mais exercerem atividades nos estados do Amapá e Pará.
Isto aumentou o uso dito ilegal da terra, ou grilagem, e a emigração para outros estados. Os trabalhadores foram substituídos: saíram os que ali viviam, e entraram nordestinos e sulistas

Em 1978 o projeto Jarí trouxe uma fábrica de celulose e usina termo- elétrica montadas, de balsa, do Japão até a Amazônia.











O Jarí mantinha outras empresas de processamento: Caolim da Amazônia S.ª, no município de Mazagão, para branqueamento de celulose; Projeto Rizicultura, em S. Raimundo, próximo do rio Amazonas, em área de 15.000 hectares, além do cultivo de cana para álcool.[OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino, Amazônia, monopólio, expropriação e conflitos, Campinas, Papirus, col. Educar Aprendendo, 1987. Pp. 26.]
Houve muitas denúncias de maus tratos no Jarí: não havia casas suficientes, os trabalhadores eram obrigados a assinar recibos de pagamentos não recebidos sob ameaça de morte, e chegavam até a ficar presos.
Outros grandes projetos foram: Trombetas, para extração de bauxita no Médio Amazonas de 1966 (a exploração começa em 1971); o Projeto Carajás: o maior projeto da Amazônia, para exploração de quase todos os tipos de minério, descoberta em 1967 pela Companhia Meridional de Mineração, subsidiada da United States Steel Co.; houve muitos conflitos de terras pela instalação deste projeto, pois eram áreas ocupadas por grupos indígenas, de extrativistas, e além do mais, a exploradora era estrangeira. O Projeto Calha Norte levou a inúmeros conflitos por terras após a militarização das fronteiras.

Esta modificação rápida do ambiente alterou o modo de vida dos que habitavam a floresta.

“ A chegada do estranho aproximou índios e seringueiros, que até aquele momento eram inimigos e rivais na floresta.Os seringueiros criaram a estratégia dos empates de derrubadas, organizando mulheres e crianças para abraçar a área de seringa que seria atingida pela moto-serra.”[
IOKOI. Pp. 123]


Os pecuaristas uniam-se aos madeireiros, apoiando-os, pois estes faziam a limpeza do terreno para aqueles. Até 1950, não havia títulos de propriedade de terra nem preços de mercado na Amazônia.

A verdadeira intenção para o JARI:


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13 de janeiro de 1982
O país afinal comprou o sonho do Jari Ludwig vira as costas para um pedaço da selva
 brasileira onde 
enterrou milhões de dólares.
O sonho de todo empresário americano é algum dia assemelhar-se ao maior deles, Henry Ford. Daniel Keith Ludwig, aos 85 anos, chegou perto. Tal como Ford, transformou a sua ousadia em poderosa ferramenta para ganhar dinheiro, além de entregar-se apaixonadamente à execução de projetos de grande criatividade e envergadura, capazes de mudar pedaços inteiros do planeta, vencer a natureza e fabricar o futuro. E, também como ele, Ludwig terá enterrado uma boa parte de sua fortuna na selva amazônica. Quando o governo brasileiro, dentro em breve, anunciar formalmente a criação da Companhia do Jari - um consórcio de 27 empresários brasileiros, cujos retoques finais foram dados na semana passada - para substituír o empresário americano no comando de seu maior empreendimento, a Jari Florestal, Ludwig terá perdido nada menos de 500 milhões de dólares de sua fortuna, estimada pela revista Fortune em cerca de 5 bilhões.
Na realidade, para Ludwig, o sonho amazônico começou a desfazer-se em meados de 1979, devorado por uma fatal conjunção de maus resultados econômicos com a aberta hostilidade da burocracia do Estado - e até recentemente esteve com o seu destino oscilando entre um melancólico fim semelhante ao da Fordlândia, abandonada nas selvas do Pará na década de 40, e a criação de mais uma empresa estatal, capaz de assumir o colossal empreendimento que da fabricação de celulose à cultura do arroz, da mineração à extração de madeira, estava criando o maior pólo de desenvolvimento entre Belém e Manaus. Após nascer em 1967 às margens do rio Jari, na fronteira do Pará com o Amapá, e desenvolver-se nos anos seguintes como o maior projeto privado, de qualquer tipo, realizado por um empreendedor individual em qualquer lugar do mundo, o sonho de Ludwig empacou. Faltava a regularização dos títulos de propriedade de 1,6 milhão de hectares das terras do Jari, havia dificuldades financeiras e o governo negava-se a assumir encargos mínimos de infra-estrutura, da rede escolar à assistência médica via INPS, de uma área eqüivalente à do Estado de Sergipe.
Antipatizado, desde o inicio, como um "enclave estrangeiro" no Brasil, o projeto chegou nestes últimos dois anos à beira do colapso - e, brigado com o governo brasileiro, Ludwig concluiu que seria inútil continuar a investir na sua salvação. Aos 85 anos de idade, recolhido ao seu quartel-general da Universe Tankships em Nova York, a empresa que fez dele um dos maiores armadores navais do mundo, e recuperando-se de uma operação na espinha que o faz caminhar com dificuldade, Ludwig dispôs-se a vender o Jari - plenamente consciente de que não teria como escapar de um monumental prejuízo.
A solução, que começou a tomar forma no início do ano passado, acaba por fim de concretizar-se com a venda do grupo a um inédito condomínio envolvendo 27 das maiores empresas privadas do Brasil - numa operação orquestrada desde o início pelo ministro do Planejamento, Antônio Delfim Netto, e o empresário Augusto Trajano de Azevedo Antunes, amigo pessoal de Ludwig, que aos 75 anos de idade comanda a partir do Rio de Janeiro um extenso império baseado na mineração. Antunes, que manterá o controle da nova empresa, emerge como a grande figura da operação - provavelmente, o maior negócio já realizado pela iniciativa privada no Brasil. Credenciais não lhe faltam. "Ele é o único homem neste país para quem tanto faz endividar-se em cruzeiros ou em dólares", depõe, admirado, um banqueiro.
O Jari escapou de ser estatizado com dinheiro do contribuinte, mas sua passagem para a iniciativa privada só se tornou possível depois que o governo decidiu aportar os recursos necessários para que o esquema idealizado pelo jurista carioca José Luiz Bulhões Pedreira, tecnicamente o cérebro da operação de venda, desse certo.
Banco do Brasil É O NOVO SÓCIO - A transação envolve, basicamente, a compra do Jari por 280 milhões de dólares, mais dividendos que serão pagos a Ludwig ao longo de 35 anos - um dinheiro que o empresário americano, na verdade, não verá nem mesmo em vida, pois já há tempo decidira doar tudo que recebesse por conta do Jari para a pesquisa contra o câncer.
O Banco do Brasil, desde logo, bancará a dívida de 200 milhões de dólares assumida por Ludwig no exterior com o aval do BNDE - hoje reduzida a 180 milhões - transformando-a em ações preferenciais e, portanto, sem direito a voto, da nova Companhia do Jari. O governo destinará ainda os recursos necessários à transformação da área do Jari em um pólo de desenvolvimento, livrando os empresários de arcar com os pesados encargos financeiros para a manutenção da infra-estrutura do projeto. A iniciativa privada, liderada por Antunes, entrará com 100 milhões de dólares num prazo de três anos; em dinheiro apenas 60 milhões de dólares serão desembolsados pelos 27 grupos nacionais, que já manifestaram ao governo a sua concordância em participar do novo empreendimento. O grupo de Antunes, enfim, subscreverá 40 milhões de dólares, representados pelo valor de uma jazida de caulim, comprada a Ludwig em condições ainda desconhecidas, e ficará com o comando do novo Jari.
Na noite de sexta-feira, Bulhões Pedreira embarcava para Nova York para finalizar a operação com Ludwig, tendo ao seu lado o próprio Antunes - que, enfim desvencilhado de seus paramentos de mediador das questões entre Ludwig e o governo brasileiro, se apresentará, pela primeira vez, como o comprador do Jari. E quando no telex da Secretaria do Planejamento surgir a mensagem procedente de Nova York comunicando a Delfim que Ludwig aceitou os termos do acordo, no anexo do Palácio do Planalto, no gabinete do almirante Roberto Gama e Silva, do Conselho de Segurança Nacional, se fechará a pasta "Daniel Keith Ludwig".
O ESFORÇO DE DELFIM - A novela chega ao fim após um ano de pacientes negociações, que entraram na reta final depois que Bulhões Pedreira, o mais bem-sucedido advogado brasileiro em operações dessa megatonagem, foi contratado por Antunes para montar o esquema prático da compra do projeto. Em fins do ano passado, a proposta oficial para a criação da nova Companhia do Jari foi enviada por Bulhões aos principais empresários nacionais, reunindo resumos dos estudos de viabilidade econômico-financeira dos projetos de celulose, florestamento, exploração de caulim, arroz e pecuária - preparados pela empresa de consultoria americana Cresap McCormick, contratada por Ludwig no início do ano passado para contabilizar o valor do Jari. Mas nenhum outro elemento de convencimento foi tão forte para os 27 novos donos do que o empenho pessoal do ministro Delfim Netto. Nessa tarefa Delfim não mediu esforços. Telefonou pessoalmente àqueles que chama de "príncipes do capitalismo brasileiro" para pedir sua colaboração. E no documento de Bulhões Pedreira estava escrito, com todas as letras, que não faltará aos empresários a assistência financeira do governo "em proporção semelhante à prestada, no último decênio, aos empreendimentos de produção de polpa".
Aceito o negócio e acertadas as condições de pagamento, o Jari continuará ligado ao nome de Ludwig até o século XXI. Pelo acordo, a nova companhia pagará a ele e à Fundação Daniel Ludwig para a pesquisa do câncer nos primeiros dez anos de funcionamento, a partir de 1987, 5% dos dividendos que forem distribuídos entre os acionistas. Nos dez anos seguintes, este percentual cairá para 4% e a partir daí até o dia 31 de dezembro de 2021, quando por fim se encerra a transação, este percentual será de 3%. Este é um dos pontos que será negociado entre Ludwig, Antunes e Bulhões Pedreira, neste fim de semana, em Nova York.
Quem vai dar as cartas na nova fase do empreendimento é Azevedo Antunes. O seu aporte de 40 milhões de dólares - representado pela jazida de caulim - lhe garantirá a presidência de um conselho de administração de nove membros, dos quais cinco serão indicados por ele. Os demais 27 empresários indicarão os quatro restantes e terão de desembolsar 25 milhões em 1982, 20 milhões em 1983 e os restantes 15 milhões em 1984, completando assim os 60 milhões da sua parte. O conselho elegerá, então, uma direção executiva de cinco membros. O gerente do projeto, ou seja, o homem que tocará na prática o novo Jari, deverá ser o diretor executivo da Aços Anhangüera, empresa de propriedade de Antunes - o polonês, naturalizado brasileiro, Janusz Wscieklica.
Na semana passada, vários nomes estavam pipocando como escolhidos por Antunes para a presidência executiva da nova empresa, cujo comando deverá ficar no Rio. Um dos mais falados, Nestor Jost, ex-presidente do Banco do Brasil, "um Juscelino gaúcho" no dizer do banqueiro Gastão Eduardo de Bueno Vidigal, prefere atribuir "à generosidade anônima" os comentários em torno de sua pessoa. Na verdade, Antunes não deseja tomar nenhuma decisão a este respeito sem antes consultar os demais membros do consórcio, mas, secretamente, cultiva um sonho dourado: convencer o presidente da Vale do Rio Doce e ex-ministro de Minas e Energia, Eliezer Batista - amigo de muitos anos - a assumir o Jari. Mas esta questão da administração será decidida sem precipitações por Antunes, até mesmo para não repetir os erros de seu amigo Ludwig, que em menos de dois anos mudou 32 diretores no Jari.
Na última sexta-feira, fiel como nunca ao seu estilo de jamais avançar informações, Antunes ainda relutava em admitir a sua nova condição de comprador do projeto Jari. "Ainda não está tudo resolvido, pois falta o último carimbo, o de Ludwig", argumentava. Na verdade, ele prefere que o governo anuncie com o estardalhaço que julgar necessário a "boa nova". Em princípio isso ocorreria nesta quarta-feira, após a assinatura de uma carta de intenção pelos 27 empresários em Brasília. Mas a data foi abandonada porque faltam ainda alguns detalhes a serem resolvidos em uma grande reunião dos sócios.
PROVA DE RESISTÊNCIA - Chegar a este ponto do negócio, mesmo contando com o empenho pessoal de Delfim Netto, exigiu de Antunes a prática de rigorosos exercícios de contorcionismo político e também de paciência. Para começar, ele teve de superar a saída do governo de um grande aliado - seu amigo e companheiro de conspiração no IPES, Golbery do Couto e Silva, do Gabinete Civil. De certo, o retorno ao governo do seu também amigo Leitão de Abreu facilitou novamente o diálogo com o governo, sempre bloqueado pela máquina do Conselho de Segurança Nacional. Mas, ainda assim, as suas freqüentes viagens a Brasília foram uma prova de resistência.
Antunes sempre fazia questão de declarar que seus contatos com o governo sobre o Jari se faziam na condição de "mediador" - e não de candidato à compra do projeto de um amigo em dificuldades. Apenas a partir de novembro último, após ter resolvido duas importantes questões - a transferência dos direitos minerais de Ludwig para terceiros e a instalação no Brasil de uma agência da Fundação Daniel Ludwig de Pesquisa do Câncer, para receber como doação os recursos que resultassem da transferência de todo o projeto -, Antunes deu o passo decisivo. Argumentou que a pendência que faltava - a legalização dos títulos de propriedade das terras e outras questões legais - já não era mais tarefa para ele, um engenheiro. Sugeriu a Ludwig, então, que Bulhões Pedreira fosse contratado para tocar a questão e elaborar uma proposta aos futuros sócios. Às vésperas do último Natal, por fim, Antunes recebeu um chamado pessoal do presidente João Figueiredo para conversar sobre o Jari. Nesta ocasião, foi-lhe solicitado que assumisse oficialmente a liderança do projeto. Estava criado assim o clima que garantiria a participação de outros empresários.
foto adendo 2016:

OS CONVOCADOS - Juntar 27 empresários diferentes, a maioria dos quais jamais pensara em embrenhar-se na selva amazônica, não foi tarefa fácil. "Confesso que a minha primeira reação ao receber a proposta não foi favorável", diz um dos novos sócios, Olavo Monteiro de Carvalho, presidente do Grupo Monteiro Aranha, do Rio de Janeiro. "Afinal, sempre ouvi que a situação do Jari era muito delicada. Pensei que tinha ganho um verdadeiro pepino como presente de fim de ano. Mas, depois de examinar em detalhe, concluí que o Jari é viável e nós estamos nele." Atender a uma "convocação do Delfim" é a razão que muitos dos 27 empresários apresentam para ter entrado no negócio. O presidente da Companhia de Seguros Sul América, Leonídio Ribeiro, contou que há uns quinze dias recebeu um telefonema do ministro pedindo a sua participação no negócio "como um serviço à pátria". "Imediatamente concordei", contou. "Hoje confesso que não sei se é um bom negócio, mas certamente será se está liderado por Antunes." Leonídio Ribeiro acredita que as grandes empresas não se podem permitir o luxo de só investir em projetos de retorno garantido. "Acho apenas que a necessidade de se nacionalizar o Jari com esta urgência irá atrasar um pouco o Projeto Carajás, já que os empresários são os mesmos", revelou.
O empresário Antônio Carlos Almeida Braga, presidente do Grupo Atlântica-Boavista, diz que entrou no projeto "por obrigação". "O governo acha que é útil, que é preciso fazer - então eu faço. Não perdi 10 segundos lendo a proposta. Aceitei e pronto." Já o banqueiro paulista Olavo Setúbal, do Itaú, se encontrava em Nova York, em férias, quando foi convidado. Resolveu então, no regresso a São Paulo, escalar em Belém, para conhecer pessoalmente o projeto. Na última sexta-feira, saindo do Jari após uma inspeção de dois dias, declarou que a parte industrial está bem resolvida, mas que grandes projetos agropecuários têm grandes problemas. "Como investimento visando lucro, existe, no mínimo, meia dúzia de coisas mais interessantes", ponderou Setúbal. "Por isso o Itaú só entrará com o propósito de ajudar o governo a resolver esse impasse."
De fato, o desafio do Jari não parece uma tarefa muito atraente de ser encaminhada, para os que desconhecem as minúcias do projeto. Já existe pelo menos um empresário participante do consórcio - ao qual chama de "Caravana Rolidei", a expedição amazônica celebrizada no filme "Bye, Bye, Brasil" - que dá sinais de descontentamento pela forma como Antunes incorporará os 40 milhões de dólares correspontes ao valor da mina de caulim adquirida de Ludwig. "Ninguém sabe das condições. Vai ver que foi um negócio de pai para filho e o Antunes acaba comprando o Jari a preço de banana."
Dissensões internas à parte, há muito o que tirar do Jari pela nova empresa. O projeto de celulose está produzindo a plena carga - 750 toneladas diárias - e com contratos assegurados para os próximos seis meses com importadores europeus. Afinal, a celulose produzida pelo jari é considerada pelos especialistas a melhor do mundo, superando a qualidade da norueguesa. A exploração do caulim já não vai tão bem - há uma superprodução mundial e os preços andam deprimidos. No projeto de reflorestamento foram plantados 16.000 hectares de eucalipto procedente do Caribe - o que melhor se aclimatou à região. E o "Beiradão", a grande cidade sobre palafitas às margens do Jari, onde vivem cerca de 12.000 habitantes, dá mostras de sua vitalidade: foi ligado ao mundo através do sistema DDI pela Teleamapá. A instalação de luz elétrica deixou de ser uma promessa e já é realidade. O governo do Território, enfim, está abrindo uma estrada que liga o Beiradão a Macapá. Na área do projeto, no entanto, a situação do emprego foi modificada ao longo dos dois anos de indefinição: dos 8.000 operários permanecem apenas 3.000.
Todo esse património, com seu imenso potencial para a Amazônia na virada do século, passa agora pacificamente para o controle do capital nacional. A operação, se não apaga os ferimentos sofridos por Ludwig, poupa ao Brasil o vexame de assistir ao colapso de um projeto destinado a gerar progresso, no qual um investidor estrangeiro aplicou 1 bilhão de dólares sem esperança de retorno rápido, nunca pediu dinheiro ao governo - e, afinal, se viu derrotado por uma implacável oposição na qual se juntaram a esquerda, militares, burocratas e a classe política, tudo sob o silêncio da iniciativa privada brasileira.
O que se espera, agora, é que o Jari possa efetivamente seguir adiante. A tarefa pode não ser fácil. Até agora, o problema era relativamente simples, pois envolvia apenas duas partes - Ludwig e seus opositores. Daqui para a frente será preciso evitar problemas dos empresários do consórcio entre si, dos sócios minoritários com Antunes e de todos eles com o governo, para que não se retorne, no futuro, a um novo impasse no Jari - e o Erário seja chamado a resolvê-lo. Uma das vantagens da passagem de Ludwig pelo Brasil foi o fato de que ela jamais custou um centavo ao contribuinte. Podia-se falar mal do milionário e de seu negócio sem se pagar nada por isso. Com a solução nacional o Jari começa a custar - e se para dar o impulso inicial a ajuda do dinheiro público é compreensível, o país tem o direito de esperar que o projeto comece a andar o mais rápido possível com suas próprias pernas.
C:\Users\User\Documents\Jarí- Veja 1982 O país afinal comprouBRo sonho do Jari - Arquivo VEJA.mht

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Amoroso Orsa
A história pareceria pura ficção, o mais surrealista possível, se não houvesse um antecedente. Diz a lenda que em 1971, ao datilografar um decreto-lei (de número 1.164), que o presidente-general Garrastazu Médici assinaria, uma secretaria acrescentou um zero ao número original. O documento considerava de domínio da União 10 quilômetros das estradas federais construídas, em construção ou simplesmente projetadas na Amazônia Legal, uma réplica estilizada de decreto que o presidente João Goulart assinou em 1964, pouco antes de ser derrubado pelos militares, por atos como esse. Com o erro, a faixa passou de 10 para 100 quilômetros de cada lado. Ou 200 quilômetros na largura total, acompanhando os grandes eixos rodoviários abertos na região a partir da década de 70.
A Jari Celulose, atual proprietária da Fazenda Saracura, diz que 2,6 milhões de hectares constituem realmente o tamanho do seu imóvel, embora o mais famoso dos proprietários dessa área, antes de ela parar nas mãos do milionário norte-americano Daniel Ludwig, em 1967, lhe tenha atribuído "apenas" 4.356 hectares. Foi com essa dimensão que a Fazenda Saracura apareceu na escritura que o coronel José Júlio de Andrade mandou lavrar, no dia 30 de julho de 1948, às folhas 79 do Livro 104 de Procurações do tabelião Edgar da Gama Chermont, em Belém.
Através dessa procuração, o mais célebre dos coronéis da Guarda Nacional no Pará deu plenos poderes ao advogado Octávio Meira para assinar, com a Empresa Jari Limitada,, a venda de todas as suas propriedades, que somavam mais de 150, distribuídas ao longo do rio, entre o Pará e o Amapá. A atribuição dos 4.356 hectares - e não quase 2,7 milhões - à Fazenda Saracura tinha uma razão de ser: embora o imóvel viesse sendo transferido por meio de escrituras públicas de compra e venda, o título que deu origem a essa cadeia sucessória era de posse, não de propriedade. Circunstância pela qual devia estar inscrito no livro 2, das posses, e não no livro 3, reservado às propriedades.
Esse tipo de documento, que apenas o Pará e a Bahia emitiram, na transição do império para a república, reconhecia o direito de ocupação do detentor do papel, mas só lhe conferia o domínio pleno da área se ele a ocupasse, beneficiasse, medisse e demarcasse. Ou seja: se a legitimasse. Daí o nome do título: de posse. Uma criação contraditória, que se justificava pelo desejo do novo governo republicano de promover o acesso de pioneiros às remotas paragens de um Estado que então possuía quase 1,4 milhão de quilômetros quadrados (o Amapá ainda integrava o território paraense).
A legitimação desses títulos estava balizada fisicamente: devia se restringir aos limites máximos, de 1.089 hectares, para a indústria extrativa e de 4.356 hectares, para a indústria pecuária, conforme a designação da época. Como a Fazenda Saracura era utilizada para a criação de gado, ao dar a procuração ao advogado o coronel José Júlio fez a estimativa da área em 4.356 hectares (ou uma légua quadrada antiga). Mas não podia defini-la de vez. Pela simples e incontestável razão de que até essa época o imóvel não havia sido medido nem demarcado.
Assim continua a situação até hoje. No entanto, a Jari Florestal, que passou (em 1982) de Ludwig para o grupo Antunes e agora está sob o controle da Orsa, empresa paulista do setor de papel e celulose, em nota oficial publicada na imprensa de Belém, no dia 17, declarou que o Tribunal de Justiça do Estado reconheceu-a e declarou-a "proprietária legítima da Fazenda Saracura".
Em texto pedregoso, a empresa diz que essa decisão, da 2ª Câmara Cível Isolada do TJE, "é terminativa, se sobrepondo e encerrando qualquer discussão ou questionamento administrativo" sobre a dominialidade da área, tornando-se "o mais forte precedente para a Jari continuar reivindicando, na esfera administrativa ou judicial, o reconhecimento do seu direito de propriedade sobre as terras que ocupa de forma legal e ininterrupta há mais de meio século na região do Jari, especialmente as demais terras de manejo cujos títulos assumem a mesma natureza deste da Fazenda Saracura".
A interpretação dada pela empresa ao acórdão número 57.359, adotado sem unanimidade pela Câmara, é questionável. Deduz-se da decisão que a Jari poderá continuar a demarcação administrativa da gleba, sustada pelo Ibama. A atitude do instituto, aliás, já suscita reflexões. Depois de ter aprovado, em 2001, o projeto de manejo florestal da Jari, que deve ser um dos maiores do mundo (abrange nada menos do que 500 mil hectares), o Ibama pôs em dúvida o domínio da empresa sobre a área licenciada. Só depois da aprovação o instituto constatou que as terras manejadas não pertencem a quem as maneja.
A demarcação feita pela Jari, com pessoal técnico por ela contratado, pode, no máximo, mesmo com o endosso judicial, ter valor informativo, nunca terminativo. Afinal, o título da Fazenda Saracura é de posse, não de propriedade. Logo, a empresa terá que legitimá-lo para que ele mude de status. E a legitimação só poder ser feita perante o órgão competente para tal tarefa, o Iterpa. O Instituto de Terras do Pará só poderá legitimar o imóvel até dois mil hectares. A partir desse limite, precisará ter autorização do Senado Federal. Mesmo que a legitimação se faça pelo regime legal diferente, como a Jari queria quando iniciou a legitimação de 32 de suas glebas, em 1976, o limite será o daqueles 4.356 hectares especificados pelo coronel José Júlio de Andrade na procuração para a venda das terras, em 1948.
Ou então o procedimento passará para a esfera judicial e nesse caso a discriminatória que a Jari está fazendo de pouco ou nada valerá. Será preciso iniciar o complexo procedimento da discriminatória judicial, gleba por gleba, atraindo com essa ação preferencial todas as demais envolvendo as terras do Jari. Essas terras, com seu tamanho global imaginado como sendo de 950 mil hectares, foram oferecidas em dupla garantia ao BNDES e ao Banco do Brasil.
Em 1982, os dois bancos estatais assumiram a dívida internacional que Daniel Ludwig contraiu e não quis pagar, por isso retirando-se do projeto que concebeu, para produzir celulose e bauxita. A dívida, na época, era de 200 milhões de dólares, que os dois bancos têm quitado, ressarcindo-se em ações preferenciais (sem direito a voto e ainda sem qualquer dividendo, já que o empreendimento só deu lucro num único ano, desde que entrou em operação, em 1979) e refinanciando o saldo. A Orsa assumiu a dívida e pagou aos herdeiros de Augusto Trajano de Azevedo Antunes um real pela compra do controle acionário da Jari.
A quanto vai essa conta de chegada, hoje, ninguém sabe. Mas o que já foi pago deve ser pelo menos o dobro do valor inicial. Para não se tornarem donos do Jari, estatizando-o, BNDES e Banco do Brasil acumularam 42% das ações preferenciais da empresa, mas não interferem em sua administração. Um dia, se ela vier a dar lucro, receberão alguma indenização pela dinheirama derramada no projeto.
O problema é que a garantia real dessa dívida é constituída pelas benfeitorias, máquinas, equipamentos - e as terras, dadas em dupla hipoteca. As terras entraram nessa composição, com um peso ponderável, porque eram uma imensidão de quase um milhão de hectares (seriam 3,6 milhões quando a história começou). E porque seriam propriedades particulares efetivas. Não é o que dizem os papéis, quando examinados com atenção.
Por isso, a empresa fracassa todas as vezes que tenta transformar em domínio pleno a enorme papelada que se acumulou no seu ativo, desde os atos benevolentes dos governadores republicanos para com seu cabo eleitoral preferencial, o coronel José Júlio, senhor de vida, morte e votos (sobretudo os fantasmas) nas barrancas do rio Jarí, até a última frustrada tentativa, de unificar todas as glebas, como se formassem um todo compacto de terras, através de um mero ato - monocrático e autocrático - da tabeliã do cartório de Monte Alegre.
Esta última tentativa foi brecada no ano passado pela então corregedora de justiça do interior, desembargadora Carmencim Cavalcanti. Mas, a julgar pela nota de domingo passado, o fôlego da Jarí não acabou. A empresa parece disposta a colocar a Fazenda Saracura no Guiness, seja como imóvel rural ou, talvez, como uma pista de pouso de fazer inveja em Itu, a terra paulista dos superlativos.
Está aí o primeiro campo de provas para a força-tarefa anti-grilagem proposta pelo desembargador Milton Nobre.
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Hoje, a Jari Celulose é um complexo que inclui a fábrica de celulose, com uma capacidade de aproximadamente 300 mil toneladas por ano, plantações florestais com cerca de 120.000 hectares, e criação de mais de 15 mil búfalos. Até pouco tempo era controlada pelos mesmos acionistas do grupo CAEMI (Augusto Trajano de Azevedo Antunes), através dasholdings Companhia do Jari / JATA. Em 28 de fevereiro de 2001, o Grupo Orsa, empresa paulista, uma das maiores produtoras de chapas e caixas de papelão ondulado e papel para embalagem, entre outros produtos e negócios, adquiriu a Jari Celulose S/A, numa transação oficial.
O grupo Orsa, assumiu mais de R$ 300 milhões de dívidas, assinando um compromisso de investimento plurianual para tentar revitalizar um empreendimento em vias de colapso. Que, para ser mantido em pé, já fez evaporar o equivalente a 300 milhões de dólares (mais de R$ 600 milhões) dos cofres do Banco do Brasil e do BNDES. Os dois bancos estatais quitaram as dívidas externas deixadas por Ludwig no Jari, recebendo em troca ações preferenciais, sem direito a voto, apenas com preferência no recebimento de dividendos. Segundo previsões otimistas, os dividendos poderão começar a ser distribuídos quatro décadas depois do desembolso original. Em 20 anos de operação, o Jari - que produz principalmente celulose e caulim - só teve lucro operacional em um único exercício.
 A Saga Investimentos e Participações, controladora do Grupo Orsa de Sergio Antonio  Garcia Amoroso, comprou 96% das ações ordinárias do Grupo Jari, que estavam sob controle da Caemi. A partir da negociação, intermediada pelo BNDES e pelo Banco do Brasil - os principais credores do projeto, aOrsa passa a ter 33% do capital total do projeto Jari, assumindo seu controle. Não houve desembolso imediato e o fluxo futuro de caixa da empresa garantirá o pagamento da dívida de cerca de US$ 410 milhões que o grupo tem com 21 credores.
 A partir do próximo ano, e até 2010, a Saga destinará a maioria do fluxo para os credores e a minoria para o controlador, numa proporção que não foi revelada pelo principal acioniosta da Saga, Sergio Antonio Garcia Amoroso, que detém 68% da empresa - o restante pertence a cinco sócios, dos quais três deles irmãos de Amoroso. De acordo com ele, o contrato prevê uma garantia mínima de pagamento de US$ 100 milhões até 2010.
 Amoroso, prevê que o Grupo Jari, rebatizado agora de Complexo Jari, tenha faturamento de US$ 160 milhões em 2000 e de US$ 210 milhões em 2001. O empresário afirmou que quer ter o controle acionário total da empresa. Ele negocia com o BNDES e o Banco do Brasil a possibilidade de compra futura das ações que estão em poder dos bancos quando do pagamento total da dívida. Outra possibilidade admitida por ele é que a Saga vá ao mercado para comprar ações que correspondem a cerca de 30% do controle da empresa. Sem experiências de atuação no mercado aberto, a Saga é dona de quatro companhias no setor de papel e celulose, que terão um faturamento de R$ 300 milhões em 99, 80% proveniente de papel ondulado. No próximo ano, o grupo inaugurará a quinta fábrica na cidade de Rio Verde (Goiás), que produzirá embalagens de papel ondulado.
 A compra do Jari é um passo grande para o Orsa, que faz o grupo dobrar de tamanho, de acordo com os cálculos do BNDES. A proposta do grupo é pagar em 11 anos a dívida de US$ 350 milhões do Jari com a própria geração de caixa do projeto. Os irmãos Guilherme e Mário Frering, controladores da mineradora Caemi e do Jari, acertaram a venda do deficitário complexo na Amazônia ao Orsa. O vice-presidente do BNDES, José Mauro Carneiro da Cunha, já afirmou que os credores consideram boa a solução, já que o grupo é nacional e cresceu adquirindo e reestruturando empresas.
 O Orsa é um grupo familiar fundado em 1981. As atividades são integradas e vão das florestas à produção de papelão. O grupo começou fabricando papelão ondulado e, posteriormente, chegou ao início da cadeia de produção. Em 1995, comprou 35 mil hectares de florestas. O faturamento foi de R$ 220 milhões em 1998 e deve ter atingido R$ 300 milhões em 1999
A celulose do Jari é totalmente produzida a partir de madeira cultivada. Nas florestas plantadas de eucalipto (fibra curta) e pinus (fibra longa), espécies que substituíram a Gmelina arbórea, a produtividade de madeira de eucalipto está em torno de 30 m3/ha/ ano. Em parceria com a Embrapa/Cenargen, a Jari mantém o maior banco de conservação genética in situ de floresta tropical, valiosa fonte de investigação para cientistas do mundo inteiro. Várias espécies foram descritas e catalogadas pela primeira vez nas oito reservas genéticas da Jari, e servem como matrizes de sementes para o replantio de espécies nativas. A construção da hidrelétrica na cachoeira de Santo Antônio, no rio Jari, constituirá um passo fundamental para a solução de um problema: o suprimento de energia. A usina terá capacidade total de 100 megawatts com um custo implantação de US$ 130 milhões.
 4. COMENTÁRIOS A não adaptação da espécie (Gmelina arbórea) inicialmente escolhida pela equipe de  técnicos de Ludwig, somada aos erros de preparo do terreno, como por exemplo: a prática de derrubada mecanizada da floresta, causaram significativo atraso no desenvolvimento do projeto florestal. O primeiro plantio de Pinus na Jari em escala maior aconteceu no ano de 1973, onde foram plantados 4.735 hectares. A introdução do Pinus na Jari foi providencial, apesar de não resolver o problema de suprimento de matéria prima para a fábrica, que se agravaria com o tempo, tornando necessário cortá-lo com oito anos de idade quando o ideal seria no mínimo 10 anos. O Eucalyptus foi mais providencial que o Pinus, pois seu crescimento é mais rápido e sua celulose de fibra curta é semelhante a da Gmelina, que já havia conquistado o mercado.

A Nacionalização do Projeto
A Experiência de Azevedo Antunes
A história de Augusto Trajano de Azevedo Antunes na Amazônia remonta à década de quarenta, sendo que na Jari especificamente é bem mais recente. Durante o ano 1938, quando trabalhava como engenheiro civil na cidade de São Paulo, ele deslocou-se até Minas Gerais para uma pesquisa em mineração, que acabou por levá-lo a dedicar-se definitivamente a esta atividade.
Para Antunes a profissão de minerador pega no coração e na pele. Satirizando essa paixão, ele narrou certa vez a piada de um explorador de minério que morre e vai falar com São Pedro, dizendo que quer entrar no céu. São Pedro responde que já tem cinco engenheiros de minério por lá, e não há nuvem que resista aos buracos que a toda hora eles vivem abrindo. Decididamente, dessa vez ele não deixaria entrar mais um. O recém-chegado propõe então conseguir a remoção dos engenheiros para o inferno, em menos de um mês. São Pedro aceita na hora. Dali a quinze dias apresentava-se o engenheiro, dizendo que os companheiros já tinham ido embora, e recebe muitas congratulações. Mas depois de vinte dias ele volta, dizendo que vai embora, pois achava que "se aqueles patifes ainda não tinham voltado, era porque tinha mesmo ouro por lá."

O Manganês no Amapá
Antes de vir para o Amapá em 1946, Antunes era presidente da Icomi, empresa de Belo Horizonte que explorava minério de ferro, manganês e calcário, sendo na época uma das maiores fornecedores de minério para Volta Redonda. No ano de 1945 a "Hanna ExplorationCo." fez prospecções nas jazidas de minério da região do rio Vila Nova, no sul do Amapá, mas sem resultado animador. Na época o Governador do Amapá era Janary Gentil Nunes, que estava decidido a promover o aproveitamento dos minérios do Território, tendo lançado uma camada de estímulo à prospecção, prometendo compensações a quem lhe trouxesse amostras de minério e soubesse indicar sua procedência.

Durante a campanha o caboclo de nome Mário Cruz se lembrou que anos atrás usara umas pedras pretas e muito pesadas como lastro para sua embarcação, na qual fazia comércio pelos rios e igarapés da região. Mário se lembrava de tê-las abandonado ao fim da viagem, nas proximidades de Porto Grande. Foi buscá-las, julgando tratar-se de minério de ferro e apresentou-se ao Governador. As análises identificaram o minério: manganês, com teor de 55% aproximadamente.

Para evitar que empresas de mineração entrassem desordenadamente nas áreas a jazida foi decretada reserva nacional, conforme publicado no Diário Oficial de 13 de dezembro de 1946.
Antes do governo abrir concorrência para exploração da jazida, Janary convidou Antunes para visitar a área, que era de difícil acesso. Antunes foi até o local da jazida em plena selva, viu o minério aflorado, estudou todos os relatórios dos geólogos e analisou ele próprioas amostras colhidas. Quando o governo abriu concorrência, a Icomi foi a única empresa genuinamente brasileira a apresentar-se como candidata, disputando com a "Hanna Exploration Company" e com a Companhia Meridional de Mineração, subsidiária da "UnitedStates Steel", e saiu vencedora da concorrência.

A ICOMI

Vendida a concorrência, a Icomi precisava de recursos para a exploração do minério, recursos estes que não podiam ser encontrados no Brasil. Sendo assim associou-se à "Bethlehem Steel" e com o aval do governo brasileiro (sendo Getúlio Vargas o presidente da época) conseguiram um crédito de 67,5 milhões de dólares do Eximbank de washington. Na sociedade a Caemi teria 51% das ações e a "Bethlehem" 49%.

Conseguidos os recursos necessários para tocar o empreendimento, mãos à obra. Entre 1954 e 1956 foi montado todo o equipamento de mineração em Serra de Navio e toda a infra-estrutura básica do projeto. No dia 5 de janeiro de 1957 o presidente JuscelinoKubitscheK acionou o botão para o embarque da primeira carga de manganês para Baltimore, nos Estados Unidos. No decorrer dos anos a Icomi promoveu uma evolução progressiva do então Território Federal do Amapá (hoje transformado em Estado). Para se ter uma idéia, quando a empresa chegou ao Amapá, sua Capital Macapá tinha 3 mil habitantes. Passados 35 anos a cidade de Macapá tem hoje 200 mil habitantes, outras indústrias, comércio forte e diversificado e com justiça podemos afirmar que este desenvolvimento foi fruto da iniciativa pioneira da Icomi, que gerou condições diretas para esta realidade.

Para citar alguns exemplos da atuação da Icomi no Amapá, a Hidroelétrica de Paredão, no Rio Amapari, foi construída com os "royalties" pagos ao Território pela Indústria e Comércio de Minérios S/A (Icomi). A estrada de ferro que liga as instalações industriais da Icomiem Serra do Navio ao porto de Santana, num percurso de 194 km, gerou intensa colonização às suas margens. Ali a Icomi comprava desde uma dúzia de ovos até uma tonelada de farinha, tudo que fosse produzido pelos colonos, a fim de incentivar a agricultura na região. A estrada servia também à população, que mesmo não sendo empregada da Companhia desfrutava dos serviços das escolas e hospitais da Icomi, os quais eram muitos bem equipados. A mortalidade infantil era a mais baixa do continente americano, incluindo os Estados Unidos.

Icomi pôde ter um serviço de saúde eficiente porque contava com a experiência de nomes como o Dr. Paulo Antunes, sanitarista de renome internacional que havia sido Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, e o Dr. Hermelino Gusmão, dedicado servidor daempresa.
Voltando a falar do manganês, na época da sua descoberta no Amapá, a Rússia era o maior exportador mundial.Um dos comentários feitos por Antunes em uma de suas visitas ao Jari foi de que era preciso ter sorte neste mundo, conceito este também de Ludwig. Raimundo de Moraes em seu livro "O Eleito das Graças" também se refere à sorte de José Júlio em seus negócios. Em suas considerações, Antunes registrou três personalidades da história contemporânea pelas quais ele não tinha simpatia, por motivos óbvios, mas que teriam indiretamente facilitado o início de seu empreendimento no Amapá: Stalin na Rússia, ao suspender a venda de manganês para os Estados Unidos; Hitler, ao desencadear a Segunda Guerra Mundial aumentou a demanda de aço liga para armamentos e munições; e finalmente Nasser, do Egito, que ao fechar o canal de Suez dobrou o preço dos fretes marítimos, possibilitando melhor mercado ao manganês do Amapá, mais próximo dos Estados Unidos, o maior comprador mundial.
A Companhia do Jari
Missão cumprida no Amapá, Antunes é convocado a colaborar na nacionalização do Projeto Jari. A consulta a alguns grupos empresariais revelou o consenso: a solução mais recomendável para o sucesso da Companhia do Jari seria obter que ele aceitasse a responsabilidade de comandar a administração do Projeto. Além de sua vasta experiência em empreendimentos de grande porte de mineração (Icomi e MBR), ele estava à frente de indústrias de aços especiais (Aços Anhanguera), projetos de reflorestamento na mesma região (Pinus da Amcel) madeira (Brumasa), papel (Copa) e atividades agropecuárias. Acima de tudo, comandava o único grande projeto privado lucrativo na região Amazônica, que enfrentava problemas semelhantes aos da Jari, mas que felizmente havia dado certo.

Outro fator considerado foi a proximidade geográfica da Icomi em relação à Jari, aliada às relações de amizade pessoal entre Antunes e Ludwig, que contribuíram para facilitar o processo de transferência do controle do Projeto Jari para capitais privados brasileiros, além de assegurar o acesso a todas as informações sobre o planejamento original do empreendimento. Antunes havia recebido de Ludwig uma oferta, que ainda estava considerando, para adquirir mediante pagamento a prazo as cotas do capital social da "Caulim da Amazônia Ltda.". Esta transação proporcionou o instrumento para a estabilidade da administração do projeto Jari. Antunes dispunha-se a adquirir essas cotas para pagamento a prazo e em seguida transferí-las pelo mesmo valor para a Companhia da Jari, em integralização de capital por ele subscrito, de modo a formar um bloco de ações que lhe possibilitasse designar a maioria do conselho de administração da Companhia do Jari, e consequentemente a escolha dos executivos do projeto.

Antes da formação da Companhia do Jari, em setembro de 1981 a firma de consultoria "CRESAP McCormick and Paget Inc." (CMP) foi contratada para realizar um levantamento das posições da Jari Florestal e Agropecuária e da Cadam, preparando com a assistência de "Arthur Andersen & Co." projeções de fluxo de caixa das duas empresas. Foi então constituída a Companhia do Jari em 25.01.82, publicada em 27.01.82. A Companhia Florestal Monte Dourado foi criada em 18.02.82, em substituição à Jari Florestal e Agropecuária Ltda. O pagamento à Universe Tankships Inc. (D. K. Ludwig), a favor do Instituto Ludwig para Pesquisa do Câncer, se extinguirá em 31.12.2021.
 [1] http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/historias-do-inicio-do-jari-3002 - 
 [2]https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_J%C3%BAlio_de_Andrade   
[3] http://cariricangaco.blogspot.com.br/2010/07/cel-jose-julio-o-czar-do-jari-parte-i.html
[4] https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2008/12/dos-alemaes-de-hitler-o-coronel-de.html
[5] http://jariedades.blogspot.com/p/historia-do-jari.html
[6] https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2008/12/dos-alemaes-de-hitler-o-coronel-de.html

2 comentários:

Mauro - email mauroh@msn.com disse...

Eu trabalhei como projetista no projeto Jari, em 1974, na cidade construída e denominada Monte Dourado. Essa estória de que havia trabalho escravo é uma mentira deslavada. Nunca houve isto por lá. Todos os trabalhadores tinham casa, mesmo os acampamentos nas áreas onde eram feito as derrubadas da mata e queimadas os alojamentos continham chuveiros, banheiros, etc. Quem escreveu isto, não viveu lá, não trabalhou naquele projeto gigantesco (maior que o estado de Sergipe). O Sr. Ludwig investiu lá mais de 1 bilhão de dólares de dinheiro próprio, que vinha da NBC, a companhia de navios dele. Trabalhei com o Sr. Arthur Mckenzie Graham, o gerente de projetos e também com engenheiro que trabalhava com Ludwig desde que ele começou com as barcaças herdadas do pai e depois comprou sucatas de navios e transformou-os para transporte de petróleo na época da guerra, quando aí sim tornou-se bilionário.

Marilda Oliveira disse...

Grata Mauro por sua ponderação. Enfim, a história verdadeira não nos foi apresentada, as dúvidas ficaram, ASSIM, agradeço esse seu relato de que naquela época não existia o trabalho escravo naquela região. continuemos as pesquisas, Grata.