Mineração
devasta Catalão
Compartilho a seguir um interessante texto publicado na última
segunda-feira, dia 16 de março de 2015, no site Brasil de Fato, que levanta algumas questões preocupantes
acerca da relação entre a atividade mineradora em Catalão, os
crescentes casos de câncer em nossa cidade e o impacto na qualidade do solo e
das águas, conforme pesquisa feita pela Universidade Federal do Mato Grosso. Ao
final, compartilho um Twitte do nosso prefeito que coloca uma pulga atrás da
orelha de quem se animou com a informação, divulgada com bastante alarde pela
prefeitura, de uma autuação de 28 milhões de reais sofrida pelas mineradoras
pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Confira:
Mineração devasta Catalão
A cidade de Catalão – cerca de 260 km da capital Goiânia – vem sofrendo
um colapso social em várias áreas por conta da mineração. Falta de água,
poluição do ar e aumento de casos de câncer são apenas alguns dos problemas que
estão afetando a população da cidade.
Com seu subsolo rico em níquel, nióbio, fosfato e os chamados minerais
de terras raras, Catalão tem olhado a riqueza ser extraída pelas empresas Anglo
American e Vale Fertilizantes. Em troca, recebe apenas o prejuízo desse
processo.
No campo, a população idosa tem sido a mais afetada pela mineração.
Muitas famílias centenárias estão sendo expulsas de seus territórios por conta
da expansão das atividades das mineradoras.
Ademais, os proprietários rurais têm vivido constantemente com a
problemática da deterioração do solo, da seca de suas nascentes, riachos e
fontes hídricas que acarretam a impossibilidade da agricultura e a morte de
animais. Isso sem mencionar o risco de transbordo de barragem de rejeitos das
mineradoras e a destruição de florestas nativas.
Na cidade, a poluição do ar, que inclusive passou a ser chamado de
“cheiro de barata” toma conta de parte dos bairros ao entardecer.
Diante desse cenário a Anglo e a Vale se defendem com falácias culpando
a falta de chuva pela escassez de água e se esquivando das responsabilidades
das partículas poluidoras lançadas no ar de Catalão.
Visita
A casa de dona Glória na zona rural de Paraíso do Alto está ajeitada,
café feito, toalha de mesa aprumada. Típica casa hospitaleira da roça quando
vai receber visita. Numa tarde quente do interior goiano, chegam quatro
funcionários da Anglo American: dois geólogos especialistas em hidrologia
vindos de Belo Horizonte, um geólogo da empresa de Catalão e um jornalista.
Escutam atentamente as reclamações da comunidade sobre o problema de falta de
água e soltam, no mesmo momento, a razão da crise hídrica na cidade de Catalão
e Ouvidor.
Segundo os funcionários, a dificuldade pela pouca água, que antes corria
em abundância pelos rios e córregos da região, faz parte de uma crise mundial
do recurso hídrico e pela falta de chuva que acomete a zona rural goiana.
Depois de muitos tapinhas nas costas e sorrisos sorrateiros, os
funcionários da Anglo se despedem com ar de missão cumprida.
Entretanto, a Anglo American esqueceu que, em Catalão, desde 1913,
existe uma estação que monitora o volume de chuvas que cai na região. Diante da
desculpa sem nexo da mineradora, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás
(UFG) foram verificar as informações contidas no aparelho de medição.
“Com base no que os funcionários da Anglo falaram, fomos pesquisar os
dados e fizemos uma tabulação. O resultado é que, há cem anos, temos o mesmo
volume de chuvas, uma média anual de mil e quatrocentos milímetros de água”,
revela o geógrafo e presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB),
seção Catalão, Gabriel Melo Neto.
Para o professor, a mineradora tentou ludibriar a população. “Não tem
nada a ver a falta de água com pouca chuva e o argumento que o problema de
Catalão e Ouvidor tem a ver com uma dinâmica mundial cai por terra, pois nós
temos uma quantidade de chuva que se mantém ao longo dos anos”, completa.
O secretário municipal de Meio Ambiente aponta a verdadeira
problemática. “Há um indicativo de que a forma de trabalho das mineradoras com
escavação de mais de cem metros de profundidade altera a qualidade da água dos
mananciais e a quantidade de água da região, como é o caso, por exemplo, do que
ocorre no entorno da mina Boa Vista explorada pela Anglo American”, esclarece.
O secretário aguarda um estudo hidrológico da região solicitado junto ao
Ministério Público para conclusões mais exatas sobre a escassez de água em
Catalão.
Reinventar a vida?
A mineração em Catalão também tem imposto a um campesinato envelhecido
uma reinvenção de vida quase impossível, como morar e trabalhar na cidade. É o
caso do senhor Antônio, da comunidade do Alto Paraíso na região de Ouvidor.“Meu
avó nasceu aqui, meu pai herdou a área e eu e meus irmãos todos fomos criados
aqui, e eu permaneci aqui até hoje, mas estou vendendo minha terra para Anglo
American”, conta.
Quase aos 80 anos e com uma história familiar de aproximadamente dois
séculos sobre seu território, Antônio se prepara para se despedir do local.“Não
tenho mais água potável, tenho que trazer da cidade, só esse ano já perdi 11
cabeças de gado com a seca na minha propriedade rural. Não tem mais como viver
aqui”, desabafa.
Antônio, que conheceu de perto todas as nascentes, riachos e córregos de
Paraíso do Alto divide a vida em antes e depois da mineração.
“Depois das mineradoras é que a vida começa a mudar aqui, pois acabam as
águas, diminuiu muito os córregos para pesca, as cachoeiras que embelezavam o
lugar eram cheias de lambari, bagre. Acabou tudo”, lamenta.
Se a perfuração do lençol freático e o intensivo uso de água na
atividade de mineração tem determinado o fim da água da comunidade de Paraíso
do Alto, por outro lado, outras tantas famílias da zona rural tem sofrido com a
inundação, devido à mudança de curso de rios e transbordamento das barragens de
rejeitos.
É o caso dos trabalhadores rurais de Mata Preta. O rio da propriedade do
senhor Agripino sofreu uma cheia por conta das mudanças ambientais causadas pela
atuação da Vale Fertilizantes, que vem modificando drasticamente o meio
ambiente da região.
“Matou todas as árvores que tinha ao redor do rio, minha plantação
afogou em meio a tanta água, além da contaminação dos rejeitos da Vale que têm
vazado para cá”, explica.
No seu vizinho, o gado vive morrendo em meio a um atoleiro misturado de
lama e rejeito da Vale. A paisagem é de um imenso lago sujo que parece que vai
engolir a casa do sítio e o curral a qualquer momento.
“Ser vizinho de mineração é uma desgraça, olha só esse mar de sujeira
avançando sobre a criação de minha propriedade”, reclama Firmino apoiado numa
bengala.
A dúvida dele é a de todos: “Para onde vou? Aqui, daqui um tempo, não
vai dar mais! Para cidade? Nunca vivi lá, aqui alimento da minha terra e lá na
cidade? Vou fazer o quê? Já estou velho demais para ser importunado por uma
mineradora, quero paz!”.
Uma pesquisa realizada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de
Catalão (SEMMAC) em 24 propriedades rurais constatou que o principal problema é
a escassez e poluição da água, muito barulho e poeira provocada pelas
mineradoras.
O secretário Marcelo Mendonza demonstra preocupação com os casos de
inundações agrícolas provocados pelas mineradoras. “Existe uma grande
quantidade de lagoas de rejeitos, que contaminam muito, alagam propriedades,
mas infelizmente não sabemos exatamente quantas lagoas foram feitas pelas
empresas nesses últimos anos”, relata.
Mineradoras multadas
Se no campo, a mineração tem determinado a morte do ciclo da vida de uma
população centenária de Catalão e Ouvidor, na cidade os terminais industriais
da Anglo e da Vale têm jogado nos pulmões dos catalanos impurezas nada
saudáveis.
Situação que levou as mineradoras a serem notificadas no dia 27 de
fevereiro para pagarem uma multa no valor de R$ 28 milhões. De acordo com a
SEMMAC, ambas as empresas seriam as responsáveis pela poluição que em Catalão
já foi apelidada de “cheiro de baratas”.
As investigações vêm do ano passado, quando a população chegou a
denunciar o caso ao Ministério Público, que desencadeou o processo. À época, os
técnicos chegaram à conclusão de que a poluição atingia certas regiões do
município, de acordo com o vento e sua intensidade.
O mau cheiro é sentido principalmente em bairro mais altos, como
Ipanema, Margon e em parte do Nossa Senhora de Fátima.
A Vale Fertilizantes foi autuada em R$ 10 milhões pela poluição
atmosférica. Já a Anglo, de acordo com a SEMMAC, foi autuada em R$ 10 milhões
pela poluição e mais R$ 8 milhões por poluição gerada na mina Boa Vista, em
que, de acordo com o documento, emite partículas quatro vezes mais do que o
permitido.
Este mês, a Anglo recebeu outra notificação. Dessa vez, aplicada pelo
Ministério Público, que em ação civil pública, propôs multa de R$ 5 milhões por
danos ambientais, na construção de uma represa de contenção.
“Nós conseguimos mapear e comprovar que essa poluição atmosférica tem
origem no polo minero-químico da Anglo e da Vale”, assegura o secretário
Marcelo Mendonça.
Câncer
A contaminação do ar e do solo levou Catalão, segundo estudos realizados
pelo Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT), a ser a cidade com maior incidência de câncer no estado de
Goiás.
A pesquisa, ao analisar os prontuários médicos do sistema público de
saúde da cidade entre os anos de 2005 e 2006, identificou que a doença
majoritariamente se localiza nos órgãos do sistema respiratório e digestivo.
“As notificações de neoplasias malignas do sistema respiratório passaram
de 1,5% em 2005 para 11,5% em 2006. Quanto ao sistema digestivo, a prevalência
passou de 10% em 2005 para 16,5% em 2006”, aponta a análise.
Na conclusão, o documento afirma: “A epidemiologia do câncer no
município de Catalão, Goiás, sugere associações entre as atividades econômicas
desenvolvidas na cidade, como a mineração e a agropecuária, e a prevalência de
tumores localizados no sistema respiratório e digestivo”.
Para o geólogo e presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros
(AGB), seção Catalão, Gabriel Melo Neto, o estudo mostra a despreocupação das
mineradoras com as populações do campo e da cidade de Catalão e Ouvidor.
“As mineradoras estão envenenando a água e o solo, portanto, estamos
comendo comida contaminada, além do ar que respiramos, que está cheio de
partículas inadequadas para população, por isso, a incidência de câncer no
pulmão e no estômago do catalano.”
Há alguns dias atrás foi divulgado
com alarde pela Prefeitura de Catalão que a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente fez "algo nunca feito nas gestões anteriores" que foi autuar
as mineradores pela poluição causada por suas atividades. Sem dúvida, assim que
a reportagem do Brasil de Fato se tornar mais comentada na cidade o trecho
abaixo vai ser destacado em propaganda de rádio, tv e internet, como exemplo de
medidas corajosas tomadas para resguardar a saúde do povo:
Situação que levou as mineradoras a serem notificadas no dia 27 de
fevereiro para pagarem uma multa no valor de R$ 28 milhões. De acordo com a
SEMMAC, ambas as empresas seriam as responsáveis pela poluição que em Catalão
já foi apelidada de “cheiro de baratas”.
Seria realmente um alento, afinal já
não é possível recuperar o meio ambiente degradado e a saúde de quem já ficou
exposto por mais de 30 anos às atividades poluentes, ao menos seria uma
garantia de que os responsáveis seriam punidos. Pena que essa informação tenha
que ser visto com um pé atrás, afinal como acreditar na seriedade dessa medida
se num dia a Prefeitura multa as empresas em 28 milhões e no outro um dos
diretores multados se encontra com o Prefeito e o Secretário de Meio
Ambiente?
É o equivalente ao lobo
encontrando-se com os porquinhos após ameaçar derrubar a casinha deles:
"Eu vou soprar, vou soprar muito forte e sua casa irá voar, mas antes
vamos nos encontrar para a um acordo podermos chegar".
Ou não, afinal são relações
republicanas de um prefeito com as empresas que atuam na cidade. Algo
perfeitamente normal, ético e cabível nessa situação, sem possibilidade de
nenhum conflito de interesse ou favorecimento de nenhuma parte.
Ganha um perfume com cheiro de barata
quem acreditar de verdade nessa história.
Compartilhe:
http://oquetodomundoquerfalar.blogspot.com.br/2015/03/mineracao-devasta-catalao.htm
2 comentários:
O silêncio do Estado Novo a respeito, é imposto pela Globo, com suas comunicações voltadas à lavagem cerebral do Povo, preparando condições propícias para instauração da Plutocracia com seus grilhões aferrados sobre os que lutam pelas liberdades de seu Povo.������������
Grata AbLand por suas ponderações. O povo DEVE obrigatoriamente acordar na luta dos interesses do Brasil do contrário, continuarão apenas trocando figurinhas sem conteúdo enquanto os governantes entreguistas aplaudem a ignorância exposta.
Postar um comentário