O MME e as diretrizes nacionalistas 117
do governo
O Ministério de Minas e Energia (MME), criado em 1960, teria
um papel decisivo no traçado das diretrizes da economia brasilei
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ra, sempre ligado às tendências de quem ocupasse a Presidência da
República. O período JK combinou a aposta firme na atração do ca
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pital estrangeiro com a intervenção estatal no planejamento (as me
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tas e os grupos executivos), criando uma expansão que gerou gran
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des espaços para a empresa privada nacional e para o florescimento
de maior dinamismo nos mercados. E depois de Juscelino veio Jânio
Quadros. E depois da renúncia de Jânio veio João Goulart, o Jango.
João Goulart já tinha sido o deputado federal mais votado do Rio
Grande do Sul quando foi vice-presidente no governo Juscelino. Na
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quela época, as eleições para presidente e vice eram independentes,
e este último tinha votação própria. Em 1955, Juscelino Kubitschek
foi eleito pelo Partido Social Democrata (PSD) e João Goulart pelo
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Cinco anos depois, a dose se
repetiu, só que com Jânio Quadros, do Partido Democrata Cristão
(PDC), como presidente da República.
Jânio foi eleito prometendo uma varredura moral na política na
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cional. Seu símbolo de campanha era uma vassoura, com a qual
varreria a corrupção para fora do país. Obteve 5,6 milhões de votos, na maior votação absoluta da história brasileira até então. Era
um governo de contradições. Ao mesmo tempo que proibia a briga
de galo e ameaçava o uso do biquíni nas praias, condecorava Che
Guevara, um dos líderes da revolução em Cuba, recém-chegada ao
poder. Em agosto de 1961, menos de sete meses depois de assumir,
Jânio, alegando estar sendo perseguido por “forças ocultas”, renun
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ciou à Presidência da República.
Nada era mais diferente de Jânio do que João Goulart. O vice
tinha uma forte ligação com os sindicatos, um repertório de dis
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cursos inflamados e uma posição muito pouco amistosa em rela
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ção à interferência de empresários americanos na economia na
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cional. Jango também tinha uma carreira ligada ao trabalhismo
de Getúlio Vargas, pavio curto e ideias nacionalistas sobre como
tratar as reservas nacionais, especialmente os minérios. O Minis
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tério de Minas e Energia – desde Jânio, diga-se – era um reflexo
dessas ideias.32
Em pouco mais de três anos de governo, o MME teve cinco minis
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tros: João Agripino, Gabriel Passos, João Mangabeira, Eliezer Batista
e Oliveira Brito – todos, em maior ou menor escala, influenciados
fortemente pelas decisões vindas da recém-inaugurada Brasília.
Quando Jango começou a governar, a questão principal do Ministério de Minas e Energia era restringir a ação do capital estrangei
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ro, particularmente o norte-americano, no comando das empresas
consideradas estratégicas, entre elas as mineradoras.
João Agripino concentrou, desde o início, suas atenções na atua
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ção das companhias internacionais. O ministro determinou o exa
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me cuidadoso da situação jurídica das jazidas de minérios e re
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cursos naturais em geral, com a intenção de decretar a prescrição
das concessões a empresas estrangeiras que permanecessem inex
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ploradas.33 Entre essas companhias, encontrava-se a Hanna Mining
Company, que, como já se viu, em 1958 comprara a St. John d’El Rey
Mining Company34 para explorar as jazidas de ferro situadas em
suas terras no Vale do Rio Paraopeba, nos limites do Quadrilátero
Ferrífero. No entanto, o direito da St. John de explorar essas jazidas
não era líquido e certo.
A companhia inglesa – que representava para o governo mais
ou menos o que a Itabira Iron Ore Company representara no início
do século – localizara as jazidas na década de 1920, mas não se
interessara em dar início à exploração em escala industrial. Com
as alterações no direito trazidas pelo Código de Minas de 1934, a St. John ficou impossibilitada de extrair o minério de ferro, uma
vez que só manifestara a posse das minas de ouro. Os depósitos de
ferro, manganês etc. foram considerados jazidas, por se referirem
a ocorrências minerais não explotadas. Para haver explotação era
necessário autorização expressa do Governo Federal.
No final de 1934, depois de ter constituído a Companhia de Mineração
Novalimense, a St. John solicitou ao Ministério da Agricultura
alteração no manifesto anterior, sob a alegação de que dera início à
exploração daqueles depósitos antes da promulgação do Código de
Minas e, por isso, eles deveriam ser considerados minas. O ministé-
rio deu parecer favorável, opinando que as jazidas já haviam sido
efetivamente lavradas em pequena escala. Uma averbação, à margem
do registro, forneceu a base legal para que em 1939 a St. John
fosse autorizada a explorar as reservas em questão. Foi exatamente
essa averbação, transformando em minas as jazidas manifestadas,
que se tornou objeto de longa disputa judicial a partir de 1961.
O ministro João Agripino constituiu uma comissão para estudar,
sob diversos ângulos (geológico, pedológico, florestal, econô-
mico, social e jurídico), as minas e jazidas do Vale do Paraopeba,
incluindo as da Hanna. O relatório final da comissão foi encaminhado
ao presidente Jânio Quadros, que, com base nesse trabalho,
assinou uma resolução anulando as autorizações ilegais dadas em
favor da Hanna e restituindo as jazidas de ferro à reserva nacional.
O despacho do presidente determinava que o MME procedesse aos
processos administrativos necessários para anular as autorizações
feitas irregularmente e declarar a caducidade daquelas que vinham
infringindo o Código de Minas na sua exploração.35
Gabriel Passos, ministro de Minas e Energia do primeiro gabinete
parlamentarista do governo Goulart, deu prosseguimento aos rumos
traçados por João Agripino à frente da pasta. Em junho de 1962,
chegou mesmo a determinar a paralisação das atividades da Hanna
no Brasil, ao ordenar a desapropriação das jazidas de propriedade de
diversos mineradores, entre os quais a Companhia Novalimense e a Mineração Águas Claras, empresa organizada em 1958 pelo grupo
norte-americano no Quadrilátero Ferrífero. A Hanna foi ao Tribunal
Federal de Recursos e obteve a reintegração de suas concessões,
sem, contudo, ter condições para desenvolver programas de exploração
mais duradouros.36
O impasse entre o governo e os americanos serviu também para
que o MME, já na gestão Oliveira Brito, determinasse que o DNPM procedesse
ao levantamento do estado em que se encontravam as jazidas
da Hanna e as repercussões sociais que a paralisação das atividades
poderia acarretar. Foi cogitada também a hipótese de entregar as
minas da Hanna para a CVRD. A alternativa foi descartada quando se
verificou que as minas da Hanna estavam situadas em local afastado
dos trilhos da Estrada de Ferro Vitória a Minas, o que inviabilizaria
economicamente o empreendimento. Oliveira Brito, então, limitou-
-se a ordenar a execução de sentença proferida anteriormente pelo
Tribunal Federal de Recursos, que colocava as jazidas da Hanna em
disponibilidade. Em consequência dessa decisão, a União e a companhia
estrangeira recorreram ao Supremo Tribunal Federal.37
Paralelamente à batalha judicial entre o Governo Federal e a
Hanna, ganhava terreno, nos meios governamentais, a ideia de cria-
ção de uma companhia estatal, nos moldes da CVRD, para explorar
o minério de ferro do Vale do Paraopeba, orientação que já constara
do Documento no 18. A organização de uma companhia estatal no
Vale do Paraopeba fazia parte da estratégia dos setores nacionalistas,
preocupados em conter os avanços da Hanna na área, impedindo-a
de obter o monopólio da extração e da comercialização
do minério de ferro, o que certamente criaria sérios embaraços às
atividades dos pequenos e médios mineradores do Paraopeba.38
36 - Em 1964, segundo a CPI do ferro, pp. 514-515, as reservas totais do Quadrilátero Ferrífero
giravam em torno de 4 bilhões de toneladas de minério de hematita. As empresas que
detinham maiores reservas eram o grupo Hanna, com 770 milhões de toneladas, o grupo
Azevedo Antunes, com 440 milhões, a Ferteco, com 240 milhões, a Samitri-Belgo-Mineira,
com 225 milhões, e a Companhia Vale do Rio Doce, com 110 milhões(!!!). Em janeiro de 1963, o Conselho de Ministros aprovou a Exposição
de Motivos no 3 do MME, cujo titular à época, Eliezer Batista, acumulava
a pasta com a presidência da CVRD. O documento apontava
as seguintes tarefas para a futura Companhia do Vale do Paraopeba:
“1 – Construir e operar terminais marítimos para embarque
de minérios e descarga de matérias-primas em geral; 2 – Contratar
à Rede Ferroviária Federal o transporte ferroviário do minério a ser
exportado; 3 – Financiar, se preciso, a Estrada de Ferro Central do
Brasil para a execução dos melhoramentos e ramais necessários,
bem como a compra de materiais de tração e rodantes.”39
O principal acionista da nova companhia seria a CVRD, que teria
a prerrogativa de indicar o presidente e o diretor comercial. A
companhia seria transportadora e exportadora de minério de ferro,
adquirindo-o de seus acionistas e de pequenos mineradores, independentemente
de sua participação acionária.40
Ainda em dezembro, o decreto assinado pelo presidente João
Goulart determinava a revisão completa de todas as concessões governamentais
das jazidas minerais, bem como o cancelamento das
concessões não exploradas nos 20 anos anteriores, entre as quais
se encontravam as da Hanna Co. No mesmo mês, o Governo Federal
tabelou os óleos lubrificantes comercializados por empresas
como Esso, Texaco e Shell, abalando o domínio das distribuidoras
estrangeiras sobre o mercado brasileiro, e concedeu à Petrobras o
monopólio das importações de petróleo.41
A essa altura, a oposição entre nacionalistas e liberais ganhava
as ruas. Em janeiro de 1964, setores nacionalistas organizaram
em Minas Gerais a Semana Popular em Defesa do Minério, com a
finalidade de esclarecer a opinião pública sobre a importância da
mineração no país e dar apoio aos atos governamentais em defesa
da soberania e das riquezas do subsolo. A questão da mineração ganhava,
outra vez – e cada vez mais –, contornos de embate político. A situação ficou patente, em 25 de janeiro, no Congresso Latino-
-Americano de Mineradores, realizado durante a Semana Popular
em Minas, que contou com a presença de delegados do Chile, do
Peru e da Bolívia. A carta de princípios do encontro misturava palavras
de ordem com artigos do Código de Minas. Defendia o estabelecimento
do monopólio da exploração de ferro pelo Estado e seu
controle pela CVRD. Por fim, o documento falava em “dilapidação de
nossos depósitos minerais” e “exigia” que o direito à exploração das
jazidas fosse exclusivo dos brasileiros. http://www.vale.com/Documents/nossahistoria4.pdf
O contra-almirante reformado Roberto Gama e Silva, sugeriu, a criação pelo governo do Brasil da Organização dos Produtores e Exportadores de Nióbio (OPEN), nos moldes da Organização dos Produtores de Petróleo (OPEP), a fim de retirar da "London Metal Exchange (LME) o poder de determinar os preços de comercialização de todos os produtos que contenham o Nióbio. O mínério é vendido no Brasil isento de imposto ICM pela Lei Kandir, e sem aprovação do modelo econômico que beneficie o Brasil.
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