domingo, 28 de dezembro de 2008

"Hidrelétricas na Amazônia"


Na Amazônia, a geomorfologia regional juntou-se aos rios caudalosos para oferecer
perspectivas amplas de aproveitamento da energia cinética das águas para geração
Divulgação JIE/ITAIPUde energia elétrica.
Computados apenas os sítios já inventariados, que não incluem alguns
aproveitamentos de porte e todas as pequenas quedas, a Amazônia brasileira poderá
dispor de capacidade instalada da ordem de 134 mil megawatts, pouco mais da
metade do resto do país (260 mil megawatts) e superior à capacidade instalada de
todas as hidrelétricas dos Estados Unidos da América (115 mil megawatts).
A fartura de energia elétrica, de fonte renovável e limpa, transformará a inequívoca
vocação mineral em vocação minero-industrial, circunstância que valorizará
sobremaneira a região.
Como se sabe que a precedência absoluta na região é a conservação da cobertura
arbórea, devido à relação biunívoca entre a floresta e as chuvas, convém tecer
alguns comentários sobre a construção de hidrelétricas na região, como resposta aos
argumentos disseminados por “ambientalistas de asfalto” e “Organizações Não
Governamentais” estrangeiras.
Em primeiro lugar, o impacto da substituição da vegetação nativa, mesmo aquela
dominada por florestas, pelos reservatórios das usinas é desprezível, pelo fato de
não afetar o clima, fiador do equilíbrio de todos os ecossistemas amazônicos.
Com efeito, o ciclo hidrológico local ficará livre de qualquer alteração perniciosa,
porque não será reduzida a proporção da precipitação que retornará à atmosfera
para, mais adiante, gerar mais chuvas. A evapotranspiração será compensada, com
sobras, pela evaporação da superfície líquida dos reservatórios.


O outro parâmetro conformador do clima, a umidade relativa do ar, também não será
Tucuruí
reduzido. Ao contrário, tenderá a aumentar, ligeiramente, devido à diminuição do
albedo (razão entre a radiação refletida por uma superfície e a radiação solar que
sobre ela incide), uma vez que a água tem maior capacidade de absorção da energia
solar incidente do que qualquer outro tipo de superfície.
A seguir, argumentam muitos que os reservatórios são muito extensos, alagando
grandes trechos florestados. Ocorre que, até o momento, só foram aproveitadas as
quedas situadas no limite entre a Bacia Sedimentar e os Escudos, portanto em sítios
http://pt.wikipedia.org/wiki/Usina_Hidrel%C3%A9trica_de_Balbina
pouco encaixados no relevo. Por esse motivo, a área de alagamento de Tucuruí
chegou a 2.430 quilômetros quadrados e a de Balbina atingiu 2.360 quilômetros
quadrados.


As futuras hidrelétricas, construídas à montante desse limite serão mais bem
encaixadas no relevo e, por conseqüência, inundarão áreas menores. Além disso, o
uso de unidades geradoras tipo bulbo, combinado com a seleção de quedas mais
baixas, minimizarão as áreas alagada.
Assim é que a futura Usina de Santo Antônio, no Madeira, com potência instalada de
3.150 mil megawatts, terá um reservatório com apenas 271 quilômetros quadrados,
madeira
dos quais uns 150 quilômetros quadrados pertencem ao curso natural do rio. A outra
usina licitada no Madeira, à montante de Santo Antônio, a futura Hidrelétrica do Jirau,
com potência instalada de 3300 mil megawatts, terá um reservatório de 258
quilômetros quadrados, dos quais 122 coincidem com o curso natural do rio. Para
sanar qualquer dúvida a respeito, a usina de Belo Monte, que será construída na
primeira volta do rio Xingu, gerará 11 mil megawatts e formará um lago de 400
quilômetros quadrados.
Espera-se, apenas, que se planejem melhor as obras civis das futuras barragens, de
Jirau
modo a conceder tempo para a extração e comercialização das madeiras existentes
nas áreas de alagamento dos reservatórios, de modo a reduzir ao mínimo a emissão
do gás metano, produzido pela decomposição dos vegetais submersos. Tal emissão
também é usada como argumento contrário à construção de hidrelétricas na
Amazônia.
Outro ponto controverso é o dos danos à ictiofauna, devido às interrupções nos
cursos dos rios, que inibiriam a reprodução das espécies que buscam as nascentes
para a desova. É um problema contornável, mediante a introdução das “escadas de
peixe” nas barragens, providência esta que se tornará automática a partir do
momento em que a competência se fizer presente em todas as etapas de construção
das usinas.
A favor das hidrelétricas, entretanto, há dois argumentos de peso, totalmente
desvinculados da geração de eletricidade, por esse motivo pouco lembrados.


O primeiro deles é tão valioso que, por si só, justificaria a construção de barragens,
mesmo sem a instalação de turbogeradores: trata-se da ampliação da navegabilidade
Eclusas
dos tributários de Amazonas, além dos limites da Bacia Sedimentar, mediante a
instalação de eclusas, ao lado das barragens.
Depois de implantadas todas as usinas inventariadas na Amazônia, além de outras
fora da região, seria possível desatracar um comboio fluvial do porto de Boa Vista, à
margem do rio Branco, para demandar um terminal hidroviário no alto Tocantins, nas
proximidades de Brasília. Ou então, alcançar o Tietê, via Araguaia, Aporé e Paraná,
até chegar ao subúrbio de São Paulo. Ou ainda, atracar em Buenos Aires, depois de
percorrer o Guaporé, o Paraguai e o Paraná. Tudo isso com o mínimo consumo de
energia, como ensina o Princípio de Arquimedes, e, como conseqüência, com
descarga mínima de poluentes na atmosfera!
O outro argumento ponderável relaciona-se com a introdução da piscicultura nos
futuros reservatórios de água doce, uma vez que a Amazônia é um dos locais mais
apropriados para a criação de peixes, não só pela grande variedade de espécies
nativas, cerca de 2.000, mas também pelas condições climáticas.
Como se procurou demonstrar, pois, são totalmente falsos os argumentos que se
vem usando, com freqüência, para impedir o aproveitamento da energia cinética dos
rios amazônicos para gerar eletricidade.
Sem energia, não há progresso possível!


SILVA, Roberto Gama e. "Hidrelétricas na Amazônia". Rio de Janeiro, em 11 de
junho de 2007.

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