terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Nióbio de MG é chave


07/12/2010

Thobias Almeida
Internacional


As riquezas do subsolo de Minas Gerais são consideradas vitais para a segurança dos Estados Unidos. A informação surgiu ontem em mais um turno de vazamentos de documentos sigilosos norte-americanos promovido pelo site Wikileaks. A lista de locais estratégicos ao redor do globo, elaborada em 2009 a pedido do Departamento de Estado dos EUA, não surpreende especialistas em relações internacionais, dado o histórico da diplomacia americana e o cuidado redobrado com a segurança nacional presenciado na última década. 

Os documentos revelam que o nióbio e o minério de ferro presentes em Minas chamam a atenção do radar americano. “Recursos como esses são estratégicos e se tornam preocupação tanto pela questão do fornecimento em caso de conflito quanto pelo destino comercial dado a eles ”, explica o professor do Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Onofre dos Santos.

O professor aponta a crescente importância de alguns minerais no atual cenário de escassez de matrizes energéticas. “Há uma corrida pelo controle de fonte de recursos que todos sabem que são estratégicas para o futuro. O nióbio é um exemplo”, aponta Santos.

O Brasil detém 90% das reservas mundiais do minério e Minas é o principal produtor. A maior mina do mundo está em Araxá, no Alto Paranaíba. O minério apresenta propriedades muito valorizadas, como a resistência à corrosão e a temperaturas extremas, o que expande o uso para variadas cadeias produtivas, desde a automobilística até a fabricação de tubos condutores, como os usados no transporte do petróleo. No entanto, é seu uso na fabricação de armas e o uso na indústria aeroespacial que é considerada mais estratégica. 

Onofre dos Santos não prevê abalos na relação Brasil-EUA a partir da divulgação e acredita que a atenção americana a recursos naturais brasileiros já era de conhecimento do Itamaraty. “A política internacional tem duas faces, a oficial e a oculta. Todos sabem que há espionagem, a questão é vir a público”, avalia o professor. Segundo ele, os EUA sempre usaram as embaixadas não somente para a prática diplomática, mas também para obter informações preciosas e vigiar amigos e inimigos. 

Santos diz que, além do pano de fundo da segurança, como a possibilidade de fontes de recursos essenciais virem a se tornar alvos de ataques terroristas, a questão econômica também fala alto. “Países de economia avançada estão nessa corrida, eles necessitam destes produtos. Assim, Minas pode sim ser visto como interessante, mas nada que chegue a preocupar” , opina o especialista, afastando a hipótese de um domínio concreto dos americanos sobre riquezas naturais brasileiros.

Além dos minérios presentes em Minas, reservas em Goiás e cabos de telecomunicações submarinos com ramificações em Fortaleza (CE) e no Rio de Janeiro (RJ) também são apontados como vitais, de acordo com os documentos publicados pelo Wikileaks. “Os americanos até hoje estão paranóicos com a segurança. O problema é que, devido a posição brasileira de se relacionar compaíses considerados párias pela diplomacia americana, como Irã e Venezuela, há a desconfiança sobre o destino de produtos estratégicos”, esclarece o professor.

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